Voz da nossa - Capítulo 01 (Estreia)
- The Open Door
- 3 de jun. de 2024
- 9 min de leitura

Capítulo 01
Personagens deste capítulo
Anderson Viriato Astolfo
Eleonora Valentina Cláudio
Otávio Omar Maria Luísa
Lorena Assis Mirian
CENA 001. RÁDIO MORADA. CORREDOR. INTERIOR. DIA/TARDE
PERNAMBUCO – 1946
Cena introdutória: Várias pessoas na rua, carros buzinando e Anderson atravessa a rua e
entra na Rádio Morada.
Omar flagra Anderson dançando no corredor da Rádio Morada e pergunta:
Omar – O que tu fazes aqui homem? Não era para estar trabalhando?
Anderson – Já encerrei meus trabalhos! Aqui estás as anotações das vendas dos horários.
Omar se assusta com os valores e diz:
Omar – Vão investir cinquenta mil cruzeiros na nossa programação?
Anderson – Oxente, tu acha pouco? Nossa rádio é campeã de audiência e a mais ouvida de Pernambuco, visse?
Omar – Estou muito feliz com o crescimento da nossa rádio! Ah, eu tenho que ter uma conversa contigo.
Anderson e Omar seguem vão até o escritório e Omar propõe:
Omar – Cabra, agora tu tem uma missão a partir de hoje.
Anderson – Eita porra, que missão é essa?
Omar – Então, o Viriato está enfrentando uma forte Tuberculose e os pulmões dele estão praticamente comprometidos. Como ele só tem a Valentina como herdeira, você quer assumir a presidência junto com a patroa a Rádio Morada?
Anderson fica tenso, aceita a proposta e comemoram no escritório.
CENA 002. MANSÃO CHATEAUBRIAND MANHÃES. QUARTO. DIA/TARDE
Valentina entra no quarto nervosa e repreende Viriato:
Valentina – Eu não acredito que você fez isso!
Viriato – O que foi amor? Porque está tão nervosa?
Valentina – Você repassou a nossa rádio para aquele rapaz, o Anderson.
Viriato – Mas amor, não basta você ter todo o controle desse palacete?
Valentina – Não é isso Viriato, a questão é colocar um roceiro matuto e ingênuo a frente de uma rádio que lidera na audiência no Estado. Eu tento entender o que você viu naquele menino.
Viriato – Eu vi um talento grandioso. Valentina, esse rapaz, o Anderson nos ajuda na rádio de forma extraordinária. É carismático e veste a camisa do nosso negócio.
Valentina – Talento não enche barriga dos cinquenta mil funcionários que são pais e mães de família. Aliás, porque não pensou em nomear o Assis para o cargo?
Viriato – Você sabe tão bem quanto eu que o Assis não tem mais condições de estar à frente de um negócio. Ele está em idade avançada e precisa de descanso.
Valentina – Embora você não nomeie algo com calibre para o cargo, aqui está a minha contestação.
Viriato – Amor tenha calma, tudo vai dar certo. Acredite em mim!
Valentina – Se você confia no taco desse rapaz, eu vou ficar tranquila. Com licença, vou
dar uma saída e pedirei para Odicéa preparar sua sopa.
Valentina se retira do quarto. Sozinho, Viriato fica pensativo, enfraquece e desfalece
em sua cama.
CENA 003. RÁDIO MORADA. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA/TARDE
Olegário questiona a decisão do Capitão Viriato com Omar
Olegário – Custa acreditar que o Anderson vai assumir a rádio Morada.
Omar – É uma questão de honra para o capitão Viriato, visse?
Olegário – É uma questão de burrice, como ele pode colocar um roceiro bobinho e sem
nenhum cacife para comandar os negócios da família dele?
Omar – Ai não é comigo rapaz, a minha parte já faço.
Olegário – E a Valentina? Ela está ciente disso?
Omar – Não faço a menor ideia, mas para tu teres uma noção... Dê uma olhada nessa pasta.
Olegário abre a pasta e fica pasmo com os valores.
Olegário – Os patrocinadores vão investir tudo isso na nossa rádio?
Omar – Sim e graças à negociação com o Anderson. Se não fosse ele, continuaríamos
tirando dinheiro do nosso bolso para investir nos programas daqui.
Olegário – Só de ver essa pasta, senti uma confiança nesse rapaz.
Omar – É por isso que o Viriato tem um carinho especial por ele.
Olegário – Vamos brindar por essa conquista?
Omar – É claro. Pegue o uísque ai!
Olegário pega a garrafa de uísque, enchem os copos em brindam.
CENA 004.FAZENDA ARANTE MAGALHÃES. QUARTO. INTERIOR. DIA/MANHÃ
Eleonora conversa com Astolfo na sala sobre Anderson
Astolfo – Bom dia meu amor, tenho uma novidade fresquinha para te contar.
Eleonora – Diga!
Astolfo – Seu enteado amado será vice-presidente de finanças da Rádio Morada na capital.
Ele viajará de trem ainda essa tarde.
Eleonora muda o semblante e diz:
Eleonora – Espero muito que o trem descarrilhe para esse infeliz morrer.
As velas dos santos se apagam e as janelas se batem. Assustado, Astolfo rebate:
Astolfo – Palavras tem poder Eleonora! Nunca mais diga isso, nem de brincadeira. O que
você deseja hoje para Anderson, amanhã ou depois retorna para você.
Eleonora – Astolfo, não sejas sonso! Ele vivo, ficará toda com a fortuna do velho.
Astolfo – Mas não é rogando praga para o seu algoz, que você conseguirá alguma coisa.
Falando no velho, como está ele?
Eleonora – Está com o pé na cova, mas essa cabra da peste não morre.
Astolfo – Entendi, mas reze para o velho não ter um lampejo de memória, senão, Anderson
retornará para cá.
Eleonora – Nem por cima do meu cadáver esse verme retorna para a fazenda.
Eleonora e Astolfo conversam e Augusta escuta a conversa atrás da parede.
CENA 005.APARTAMENTO CHATEAUBRIAND. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA/MANHÃ
Valentina reclama com Assis sobre a decisão de Viriato:
Valentina – É um absurdo o Viriato não passar a nossa rádio para você.
Assis – Mas é compreensível, eu nunca fui muito com a cara do Viriato e nem ele com a
minha. Além disso, não tenho tempo para administrar a Rádio Morada.
Valentina – Está cheio de compromisso em Brasília?
Assis – Sim e estive conversando severamente com o presidente Eurico Gaspar Dutra. Em
meio a prosas, consegui verba para fortalecer a infraestrutura do Diários Associados.
Valentina – Que maravilha, eu fico muito feliz por você.
Assis – Obrigado minha querida!
Um carteiro toca a campainha do apartamento de Assis e entrega uma correspondência para
o empresário.
Assis – Valentina chegou uma correspondência para você e da sua residência.
Valentina – O que será que houve?
Valentina abre correspondência e fica nervosa com o conteúdo:
Valentina – Não estou acreditando que isso aconteceu!
Assis – O que houve Valentina? Diga-me.
Valentina – O Viriato falece, a Odicéa o encontrou sem vida na cama.
Assis – Calma minha querida, seja forte! Estou aqui para te consolar.
Valentina – Eu não sei o que será da minha vida sem ele.
Assis – Onde ele estiver, estará te protegendo de todos os males.
Valentina abraça Assis completamente chorosa e o empresário consola.
CENA 006. CASA DOS GUIMARÃES. QUINTAL. EXTERIOR. DIA/MANHÃ
Maria Luísa lava as roupas no tanque e é surpreendida por capitão Miranda
Maria Luísa – O que tu fazes aqui homem?
Capitão Miranda – Vim lhe trazer um agrado!
Capitão Miranda coloca um simples colar no pescoço de Maria Luísa e diz:
Maria Luísa – Tu sabes que meu pai não gosta de ti [...].
Capitão Miranda – Pouco me importo com o que o seu pai acha de mim, visse? Eu te amo e é
isso que importa.
Maria Luísa – É melhor ir embora antes que o pior aconteça.
Capitão Miranda – Fica calma mulher, tudo vai dar certo!
Capitão Miranda beija Maria Luísa e ambos vão para o quarto. O clima entre o casal
esquenta. Ao ouvir os gemidos da filha no quarto, Claudio invade o local armado e diz:
Claudio – É uma vagabunda mesmo. Deixei bem claro para não se enrabichar com este homem e tão menos, antes do teu casamento.
Capitão Miranda – Senhor Claudio, eu amo sua filha e desejo em assumir um compromisso com ela.
Claudio – Ama porra nenhuma, está aqui para desfrutar da pureza de minha filha. E sabe qual é o salário do pecado? É a morte!
Maria Luísa – Pai, não faça nada que possa se arrepender.
Claudio – Cala a sua boca, não quero ouvir a tua voz. Vou fazer a mesma coisa que fiz
com o pai desse infeliz.
Ao tentar se aproximar de Claudio para conversar, Capitão é baleado pelo pai de Maria
Luísa e a jovem entra em desespero.
Maria Luísa – Amor, por favor, acorde!
Claudio – Já estavas esperando para acertar os ponteiros com este rapaz.
Maria Luísa se levanta e confronta Claudio:
Maria Luísa – Como pode ser capaz de matar uma pessoa inocente?
Claudio – Inocente? De inocente esse rapaz não tem nada, visse?
Maria Luísa – Eu te abomino como homem e te odeio como pai.
Claudio – Odeia é? Então vou te colocar no lugar que você merece.
Claudio pega Maria Luísa pelo braço, abre o portão de casa e a joga na rua.
Claudio – Lugar de vagabunda é na sarjeta. E nunca mais volte a pisar nesta casa.
Lorena chega próximo a filha e diz:
Lorena – O que está acontecendo aqui?
Claudio – A sua filha estava se engraçando com aquele miserável da família rival. E se
você ajudar ela vai sobrar para você também.
Claudio retorna para a casa e Lorena aconselha Maria Luísa:
Lorena – Eu farei de tudo para te ajudar, visse? Nem que sejas escondido do teu pai.
Maria Luísa – Não arrisque sua vida, não vale a pena.
Lorena abraça Maria Luísa e a consola.
CENA 007. CEMITÉRIO DE SANTO AMARO. EXTERIOR. DIA/TARDE
Horas depois: Valentina e Assis se despedem de Viriato.
Valentina – Viriato, o capitão mais poderoso de Pernambuco, agora, chegou a sua hora de
ser recebidos nos braços de Deus. Descanse em paz meu amor, sempre te levarei na minha
vida como um exemplo de homem. Te amo e sempre vou te amar!
Valentina beija a testa do falecido e pede para fecharem o caixão. O caixão é colocado no túmulo e Assis a consola:
Assis – É querida Valentina, o que farás daqui pra frente?
Valentina – Vou fazer o que prometi ao Viriato, irei para a Europa e passarei uma
temporada lá. Deixarei a mansão para Odicéa cuidar enquanto estiver no exterior.
Assis – É uma decisão acertada a se fazer.
Valentina – Eu ainda fico transtornada com esse falecimento do Viriato. A tuberculose tirou a vida da pessoa que mais amo, além de Deus e dos meus pais de criação.
Assis – Valentina, você pode contar comigo enquanto estiver vivo. Estarei de braços
abertos para lhe receber em minha residência.
Valentina – Obrigada Chatô, nem sei como te agradecer.
Assis – Não precisa me agradecer, eu estou aqui para isso. Agora vamos para casa, você
precisa arrumar suas malas para voltar para a Europa.
Valentina e Assis deixam o cemitério e entram no carro.
CENA 008. HOTEL MARDOCE. QUARTO. INTERIOR. DIA/TARDE
Adriano chega ao quarto e Selma questiona o marido:
Selma – Conseguiu encontrar um cantor para fechar um acordo?
Adriano – Infelizmente não... Pernambuco padece de bons talentos no ramo musical.
Selma – É uma pena não ter conseguido, enfim, voltaremos ao Rio de Janeiro?
Adriano – Ainda não, eu tenho alguns assuntos para resolver aqui.
Selma – Amor, não podemos ficar mais tempo aqui e com pouco dinheiro. Temos que
amamentar nossa filha.
Adriano – Selma, tenha calma, eu farei o possível e o impossível para fechar contrato
com algum cantor, nem que seja aqueles cantores baratos de botequim.
Selma – Assim eu espero e torço para que dê tudo certo.
Adriano – Se Deus quiser vai dar certo e reze muito!
Selma – Agora vou preparar o café e fazer a mamadeira de Letícia.
Adriano – E o nosso campeão? Está se comportando?
Selma – O menino Davi nem nasceu e já está fazendo a festa no meu ventre.
Adriano se aproxima da barriga de Selma e beija.
CENA 009.FAZENDA DOS ARANTES MAGALHÃES. QUARTO. INTERIOR. DIA/TARDE
Eleonora entra no quarto e pede para Otávio assinar o testamento:
Eleonora – Amor, você pode assinar este testamento?
Otávio – Pra que amor? Não estava tudo certo?
Eleonora – Houve um erro na hora de registrar. O advogado pediu uma nova assinatura.
Otávio assina o testamento e rebate a esposa:
Otávio – Quem é esse tal de Anderson?
Eleonora – É um filho seu que faleceu num acidente por ai.
Otávio começa a se sentir mal e se rebate. Ao tentar pedir socorro para Eleonora, o fazendeiro sente dores fortes no peito e ao se levantar bate de cabeça no criado mudo perto de sua cama e morre.
Eleonora coloca um sorriso no rosto de Astolfo diz:
Astolfo – O que houve com o velho?
Eleonora – Morreu! Simplesmente ele morreu e deixou tudo para a gente.
Astolfo – Não acredito que conseguiu tirar tudo de Anderson.
Eleonora – Quero deixa-lo na merda e consegui. Agora vamos fugir desse fim de mundo
antes que nos descubram.
Astolfo – E a Valdeia? Vai fazer o que com ela?
Eleonora – Deixa comigo, mas antes, leve o corpo deste traste daqui e enterre logo.
Astolfo chama os capangas que entram na fazenda e retiram o corpo de Otávio. No
corredor, Valdeia é surpreendida por Eleonora e é baleada pela patroa, não resiste aos
ferimentos e morre.
CENA 010. TREM JAÇANÃ. VAGÃO. INTERIOR. DIA/TARDE
Um passageiro senta ao lado de Anderson e puxa assunto:
Passageiro – Esse senhor ai da foto é o seu pai?
Anderson – Sim e infelizmente eu não tenho notícias dele.
Passageiro – Porque não o procura? Dialogar é a melhor solução.
Anderson – Meu pai sofre com mal de Alzheimer e a esposa dele e eu, não nos gostamos.
Passageiro – Entendi e sua mãe? Aceitou o divórcio.
Anderson – Ela faleceu com um câncer quando eu tinha seis anos.
Passageiro – Te desejo meus sentimentos. Deve ser triste ter uma vaga lembrança de uma
pessoa que amamos.
Anderson – Ela foi minha protetora enquanto esteve viva.
Passageiro – E agora? Qual é o seu destino?
Anderson – Vou para a capital conhecer a sede da Rádio Morada.
Passageiro – Que legal! Te desejo boa sorte.
Anderson – Muito obrigado!
O passageiro estranha a locomoção do trem e diz:
Passageiro – O trem está se movimentando estranho e um cheiro forte de queimado.
Anderson – Com certeza, algum motor deve está com defeito.
Ao se levantarem, um vagão do trem explode com todos dentro e Anderson se joga para
fora.
FIM DO CAPÍTULO 1

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