Conquistando o Impossível - Capítulo 05
- The Open Door
- 19 de abr. de 2024
- 16 min de leitura
Web novela criada e escrita por:
Ricky Nascimento
CAPÍTULO 5: "DIA D: DESTRUIÇÃO E CAOS, PARTE 2"
No capítulo anterior:
Após os Bads apedrejar a prefeitura da cidade, Luigi é pego, tentando salvar Manu. Biano mente para os pais sobre furto, Bryan desconfia. Diogo ameaça agredir Pilar, mas sua namorada Paula intervém, os ânimos se exaltam. J. Mauro tem uma conversa amorosa com Manu. Navalha diz para o pastor Marcos que é proibido expressar fé no local, Marcos diz que não vai deixar de pregar e que Deus vai ajudá-lo, Navalha debocha dele. Após viajarem para São Paulo, o ônibus que transporta Maurício, Benício e João Mauro sofre um grave acidente.
Fique agora com o capítulo de hoje…
CENA 1/RODOVIA RIO-SP/ÔNIBUS/MANHÃ/INT.
Na cabine do motorista…
O motorista conversa com seu companheiro de viagem e gargalha. No momento que ele olha para o companheiro, uma camionete faz uma ultrapassagem errada e entra na frente do ônibus evitando bater na traseira do veículo o motorista tenta desviar. Maurício está no banheiro sentado no vaso e sente uma forte movimentação do veículo que o joga para o lado. Ele acha estranho. O ônibus cai numa ribanceira e capota algumas vezes. Maurício é sacolejando na cabine do banheiro, ouve-se gritaria. Mostra-se Maurício desacordado dentro do banheiro do ônibus. Carros param e descem pessoas curiosas que se aproximam do ônibus, mostra-se um ônibus parcialmente destruído, mostra dentro do local, muitos corpos jogados pelo local, bolsas e malas espalhadas. Foca na sandália de Benício, onde mostra somente sua perna ensanguentada.
Corta para…
CENA 2/MEIER/CONDOMÍNIO CORAIS/APARTAMENTO DE JAVIER/MANHÃ/INT.
Mostra Davi dormindo no sofá, ele está esparramado e baba na almofada. Javi sai do quarto com pijama e bocejando, ele vê Davi dormindo e revira os olhos. Ele vai até a cozinha e abre a geladeira e pega uma garrafa de água e bate a porta forte fazendo barulho, Davi acorda, ele vai rapidamente até ele rapidamente.
JAVI (OLHANDO NOS SEUS OLHOS) - acordou cinderelo?
Davi desvia o olhar e espreguiça-se.
JAVI (DAR UMA TAPINHA NO SEU OMBRO) - Não desvia o olhar, que é com você que estou falando.
DAVI (BUFA) - O que é Javier? Estou morrendo de dor de cabeça…
JAVI (DE BRAÇOS CRUZADOS, ALI PARADO ENCARANDO-O) - Agora deu para se dopar? Ontem você me deu um maior susto, porra Davi!
DAVI (ARREGALA OS OLHOS) - Desculpa amor, é que ontem foi difícil para mim.
JAVI (SERIO) - E o correto era tentar suicídio?
Davi se levanta chateado.
DAVI - Que suicídio o que, foi só uns remédinhos…
JAVI (SÉRIO) - Olha para mim Davi Viana! (Davi vira-se para ele, Javi vai até ele e os dois estão face a face) - Amor, o que está acontecendo, é seu pai?
DAVI (DESVIA O OLHAR E SAI ANDANDO DIRETO PARA O BANHEIRO) - Não, não. Foi outra coisa.
JAVI segura em seu braço e puxa - o para um abraço forte. Eles ficam abraçados em silêncio. Davi chora no seu ombro.
JAVI (TRISTE) - Amor, chega dessa situação, vem morar comigo…
Davi separa-se dele.
DAVI (EMOCIONADO) - Não, não posso.
JAVI (TENSO) - Por que? Prefere que seu pai passe o resto da vida te infernizando?
DAVI (ENTRA NO BANHEIRO E SE TRANCA) - Você não entende, Javier…
Javier fica do lado de fora com as mãos estendidas em sinal de indignação. Javi suspira fundo inconformado.
Corta para…
CENA 3/40° DEPARTAMENTO DE POLÍCIA/MANHÃ/INT.
Luigi está na recepção da delegacia. Sua mãe Helena (HELOÍSA PÉRISSÉ) chega. Ela vai até ele brava.
HELENA (SUSSURRANDO) - Essa foi a educação que te dei? Te encontrar numa delegacia e ainda ser preso por atentado público! Onde você estava com a cabeça, Lui!
LUIGI (CHATEADO, EVITA CONTATO VISUAL) - Agora você lembra que tem filho? Esses 17 anos você esqueceu, agora que o filho da deputada está preso, vai lembrar?
HELENA (SUSPIRA FUNDO) - Meu filho, você está sendo injusto. Eu sempre te dei do bom e do melhor…
LUIGI (VIRA A CABEÇA PARA ELA RAPIDAMENTE, OLHAR TRISTE) - E amor? Não conta?
Helena desvia o olhar. Ela vai até um policial.
HELENA (SERIA) - Deputada Helena Fenícia! Prazer… posso dar uma palavrinha com o senhor delegado?
POLICIAL - Claro, senhorita Helena Felicia. Me acompanhe.
Ela entra para dependências da delegacia, Luigi fica na sala de espera. Manu chega na delegacia, ela procura por Luigi, ela vê ele. Fica feliz. Ela toca em sua cabeça e ele ergue os olhos.
LUIGI (SORRI) - Manuela…
MANU (SORRINDO) - Manuela não, Manu… só Manu, já basta minha mãe ficar me chamando todo o tempo com esse nome horroroso.
Luigi encara-a sorridente, focando em seus lábios.
MANU (SORRI, COM OLHAR SENSUAL) - Quer beijar?
Luigi fica desconcertado e envergonhado.
MANU (GARGALHA) - Estou zoando, relaxa. Não tem nem clima para isso.
Ela fica desconcertada.
LUIGI (SORRI) - E se tivesse, você iria amar, né? Sei que adorou me beijar…
Manu revira os olhos e desvia o olhar.
MANU (GARGALHA, DEBOCHADA) - Se liga Lui, você beija bem mal… Kaik é hã… muito melhor!
LUIGI (APERTA OS OLHOS, MORDE OS LÁBIOS) - Não é isso que seu olhar diz, e nem o seu corpo.
Manu fica envergonhada e nervosa.
MANU (REVIRA OS OLHOS) - Não se faça viu! Não é por que te beijei que eu quero te dar…
LUIGI (ARREGALA OS OLHOS,
SURPRESO) - Não quis ser desrespeitoso com você, e em nenhum momento tive intenções erradas com você, pois gosto muito de você… muito.
MANU (ENCARA SEUS LÁBIOS POR UM INSTANTE, ELA SENTE UMA COISA FORTE, QUE A ARREPIA) - Ai… Deixa de papo furado boy, vou contar para o Kaik que você está dando em cima de mim.
Ela sai andando.
LUIGI (ASSUSTADO) - Não está louca, ele vai me quebrar todo, e sabe o que eles fazem com talarico…
MANU (PARA, OLHA ELE) - Que espécie de homem é você? Credo! E mesmo assim, a Paula colocou chifre no traste do Diogo com a Pilar e nem por isso espancaram elas.
LUIGI (ASSUSTADO) - Mas eu sou homem, pô. Eles vão me surrar…
Helena sai da sala e bate de frente com Manu. Ela olha-a de cima a baixo com cara de desdém.
MANU (FRANZE A TESTA) - Algum problema, senhora? Está passando mal?
HELENA (IGNORA-A, FALA PARA LUIGI) - Quem é essa daí, Luigi…
MANU (INTERROMPE, BRAVA) - Essa daí tem nome! (Pega na sua mão e a sacode forte) Manu, um prazer conhecê-la.
Helena tira a mão e limpa-a na roupa como se tivesse pegando numa coisa nojenta.
HELENA (SUSSURRANDO PARA LUIGI) - É com essas amizades que você anda? Com esse tipo de gente…
MANU (CUTUCA ELA POR TRÁS) - Senhora não fale de mim como se não estivesse aqui, parece que educação não vem de berço mesmo.
HELENA (GRITA) - Escuta aqui sua piveta trombadinha! Você não vai carregar o meu filho para o lixo que você vive não, está me ouvindo.
O delegado sai da sala bravo.
DELEGADO - Que baderna é essa na minha delegacia?
HELENA (APONTA PARA MANU) - Essa garota aí, prende ela, delegado… Com certeza ajudou meu filho no atentado à prefeitura.
LUIGI (ARREGALA OS OLHOS) - Mãe, não!
HELENA (SÉRIA) - Pode prender a marginal.
Manu olha para Luigi assustada, ele encara ela.
________
MANU (BRAVA, BATE DE FRENTE COM ELA) - Por acaso você tem provas madame? Você pensa que sou cão sem dono, sai fora! Não tenho nada a ver com isso…
HELENA (GRITA) - Prende ela delegado, tenho praticamente certeza que ela é a mandante do crime.
LUIGI (INTERROMPE) - A Manu não tem nada a ver com o que fizemos, já falei tudo que tinha que falar… Tou livre?
DELEGADO (SERIO, ENCARANDO MANU) - Sim, mas se comporte, ele não pode sair da cidade até terminar as investigações e pegarmos os chefões. (a Manu) Vamos ter uma conversinha?
MANU (OLHA ASSUSTADA PARA LUIGI, ENCARA O DELEGADO) - Que eu saiba não recebi intimação nenhuma para prestar depoimento, e eu nem sei o que aconteceu, só vim porque o Lui me chamou…
DELEGADO (CONTINUA ENCARANDO) - Tudo bem, mas estamos de olho em você.
Helena olha com indicação, para o delegado que dar de ombros.
DELEGADO - Não posso prender uma adolescente por conta de especulações.
HELENA (REVIRA OS OLHOS) - Olha a cara da marginal delegado, logo se vê que é órfão. O corpo cheio de tatuagem.
LUIGI (REVIRA OS OLHOS) - Para Helena, que preconceito… eu também tenho tatuagem…
Helena dá um tapa nas suas costas. Sai andando.
HELENA (BRAVA) - Que vergonha, meu deus, que vergonha! Deveria ter abortado na primeira oportunidade…
MANU (GRITA) - Aborto é crime querida. Cuidado com a cadeia.
Ela e Luigi gargalha.
DELEGADO (SERIO A LUIGI) - Direto para casa, viu. Abre teu olho com essas amizades.
Olha Manu de cima a baixo e sai. Manu revira os olhos.
MANU (DAR A LÍNGUA PARA A PORTA DO DELEGADO DISCRETAMENTE) - Sai do meu pé curuba, Delegado tinhoso…
Luigi gargalha, rindo dela, ela fica com raiva e bate nele de leve, eles têm uma conexão aos se olharem. Manu disfarça.
CENA 4/IPANEMA/CASA QUALQUER/MANHÃ/INT.
Mostra uma casa elegante e assim foca-se num salto alto vermelho de uma mulher, ela está com o telefone no ouvido, não mostra seu rosto.
MULHER (V.O/TELEFONE) - Alô, viu as notícias?
HOMEM (OFF/V.O) - Sim, Val, mas você acha que esses jovenzinhos irão ajudar em quê?
Mostra-se Valeska (PALOMA BERNARDI) está bem elegante e posuda, ela sorri com seu olhar penetrante.
VALESKA - Aí, Murilo, como você é lento… eles causam no meio, tem ideias revolucionárias e podem ajudar e muito na causa.
Corta para…
CENA 5/AVENIDA RIO SUL/MANHÃ/EXT.
Mostra um carro chique, um Lamborghini, o mais atual do ano. Ele está com o teto aberto e mostra Murilo (RÔMULO ESTRELA). Ele está de óculos escuros, e dirige em alta velocidade pela avenida, falando no telefone.
MURILO (SORRINDO) - Estou indo na sua mansão. Vamos ter aquela manhã gostosa, sua bandida!
VALESKA (OFF, V.O) - Aí, Muzinho, venha. Vou abrir a champanhe!
MURILO (GRITA E SORRI) - Huuuu! É hoje…
Ele para no sinal e está passando várias pessoas. Ele vê um flanelinha passando entre os carros, vendendo seus produtos. O Flanelinha aparece ao lado dele.
FLANELINHA (SÉRGIO MALHEIROS) (SORRIDENTE) - Bom dia, doutor, poderia está me ajudando…
Murilo vira para ele, e retira os óculos e foca nos olhos do rapaz
MURILO (SUSSURRA) - Vai trabalhar, encardido dos infernos! Sai da minha frente e vá procurar sua turma.
O Flanelinha fica indignado e grita com ele, após ele acelerar e avançar o sinal vermelho com tudo.
FLANELINHA (GRITANDO) - Maldito racista! Lixo!
Todos observam ele gritando. Ele atravessa a rua, pois o sinal abriu.
O rapaz vai até o vendedor ambulante que está na calçada.
RAPAZ (INDIGNADO) - O desgraça me chamou de encardido. seu Nilson pode isso?
NELSON (REVIRA OS OLHOS, BRAVO) - Filho de uma égua? Por acaso essa desgraça não tem sangue africano não? Liga não Rick, é assim mesmo, aqui em Ipanema tem umas pragas racista que só Jesus.
RICK (SÉRGIO MALHEIROS) - Pra mim racista não tem vez, seu Nelson. Se eles não têm educação de respeitar as pessoas, muito tenho eu. Minha mãe é de origem humilde mas, me ensinou e muito respeitar as diferenças… ninguém é igual, vivemos em um planeta com mais de 8 bilhões de pessoas, e ainda tem gente que acha que todo mundo é igual. Cada um tem sua história… Já deu pra mim hoje, vou para casa e vou preparar meu pendrive e levar na gravadora EsTilo. Eu ainda vou vencer na vida com meu esforço, você vai ver seu Nelson.
NELSON (SEGURA SUAS MÃOS, SORRI) - E eu estarei vivo para ver… mas não se esqueça desse pobre velhinho.
Rick sorri e abraça o senhor, pega suas mercadorias e vai para casa.
CENA 6/MORRO BRANCO/CASA DOS DAMASCO/MANHÃ/INT.
Mostra uma casa bem simples e colorida. Tem um adolescente sentado à mesa estudando, ele está com a cabeça raspada, ele escreve algo sorridente. Sandra (LUCY ALVES) entra no local, está com algumas sacolas. O Menino larga o que estava fazendo para ajudar a mãe.
SANDRA (TENTA IMPEDIR) - Deixa Joaquim, você não pode fazer tanto esforço físico.
JOAQUIM (MIGUEL SCHMID, 12 anos) (REVIRA OS OLHOS, PEGANDO UMA DAS SACOLAS) - Deixa eu te ajudar mãe… se não fizer vou me sentir um inútil nessa casa, já basta essa doença dos infernos.
Ele bate na sua boca após falar a última palavra.
SANDRA (SERIA) - Já disse que não quero ouvir essas palavras aqui. Muito me admira você tão cristão ficar falando essas palavras feias…
Ela coloca as compras na mesa, ele faz o mesmo.
JOAQUIM (SUSPIRA FUNDO) - Tem razão, desculpe, não irei falar mais essa palavra tão feia.
Ele corre até a mesa e coloca sua cartinha num envelope e sela com um chiclete que mastigava escondido da mãe. Ele sorri e vai em direção a porta.
SANDRA (BARRANDO) - Epa! Epa! Epa! Onde o senhorzinho vai?
JOAQUIM (SORRI) - Vou nos correios, levar minha cartinha mãe…
SANDRA (REVIRA OS OLHOS) - Mas meu filho, de novo! Você não acha que é um pouco demais, você levar a cada dois dias uma carta aos correios…
JOAQUIM (FERVOROSO) - Não mãe, Ele há de me ouvir e me responder, tenho fé…
SANDRA (SORRI, EMOCIONADA) - Vem aqui meu querido.
Joaquim vai e abraça a mãe.
JOAQUIM (SORRIDENTE) - Não chora, mãe. Jesus há de me mandar o remédio para minha ferida. Ele vai me responder…
Joaquim sai praticamente correndo e quase esbarra no pai, que toma um susto. Joaquim passa direto animado.
ANDRÉ (NANDO CUNHA) - Ei onde você vai?
SANDRA (EMOCIONADA) - Onde mais, André?
André adentra a casa e coloca suas ferramentas no canto da sala. Sandra puxa a cadeira de madeira da mesa e senta.
SANDRA (SUSPIRA, CHORANDO) - As vezes acho que a força dele é que me mantém de pé, Dré. Joa é muito fervoroso, e isso me inspira lutar… dois anos que ele (nós) lutamos contra essa maldita doença, às vezes acho, que isso nunca vai acabar.
Ela chora inconsolavelmente. André vai até ela e abraça-a por trás num abraço acalorado e confortante.
ANDRÉ (SORRINDO) - Lembra da primeira vez que o Joa soube do câncer?
SANDRA (OLHA PARA ELE, SORRI EMOCIONADA) - E tem como esquecer, Dré.
FLASHBACK ON
2 ANOS ATRÁS…
Joaquim está no hospital após passar muito mal, ele está dormindo. Sandra, André e Rick entram no local. Sandra está muito abalada, chora muito, na verdade todos estão bem tristonhos. Eles param ali, Sandra fica vendo Joaquim dormindo, por alguns minutos Joaquim acorda.
JOAQUIM (SORRI, SONOLENTO) - Oi…
SANDRA (APROXIMA-SE,ARRASADA) - Oi meu filhinho, tudo bem?
JOAQUIM (SORRI, PEGA NAS MÃOS DA MÃE, QUE BEIJA) - Estou sim… não fiquem assim, não chorem por isso.
ANDRÉ (INTERROMPE, EMOCIONADO) - Não estamos chorando por nada, só por que estamos te vendo bem, meu filho.
JOAQUIM (TOSSE, SORRI PARA O PAI) - Eu sei por que vocês estão chorando, estou dodoi num é…
RICK (EMOCIONADO) - Infelizmente, meu irmão, mas irá ficar tudo bem…
SANDRA (CHORANDO) - Filhinho, deixa eu te explicar, você está com um bichinho no sangue, são uns bichinhos mal que destroi uns bichinhos bons.
JOAQUIM (SORRI) - Câncer?
Sandra arregala os olhos, e olha para André e Rick que ficam tensos.
ANDRÉ (SORRI, EMOCIONADO) - Isso meu filho, mas como descobrimos no estágio inicial da doença ela pode ser tratada. Vai ficar bem.
JOAQUIM (SORRI, OLHA PRO PAI) - Eu sei pai, não quero que vocês fiquem tristes por mim, não quero esse olhar de pena… quero que me olhem como um garoto normal. Tudo bem?
SANDRA (SORRI, CHORANDO, ABRAÇA O FILHO) - Sim meu querido, tudo bem, meu bebezinho esperto, te amo meu filhinho.
A família inteira se abraçam.
FLASHBACK OFF
Mostra ali, Sandra com os olhos fechados, com pensamentos distantes.
ANDRÉ (EMOCIONADO) - Vai ficar tudo bem, meu amor… Ele vai sair dessa, Joa é forte e destemido se fosse eu já tinha morrido do coração de tanto nervoso.
SANDRA (GARGALHA) - Teria mesmo. A propósito você ainda não fez seu exame de próstata, com medo… tem que fazer homem…
André se afasta dela, incomodado.
ANDRÉ (DESCONCERTADO) - Que exame de próstata o que? Eu hein! Sou cabra macho. E nem próstata eu tenho…
SANDRA (APERTA OS OLHOS) - E tem o quê? Trompas? Faça me o favor… todo homem tem próstata André.
ANDRÉ (CHATEADO) - Eu num tenho, onde já se viu, eu, um homem sadio ter próstata.
SANDRA (REVIRA OS OLHOS) - Mas é uma anta mesmo, próstata é um órgão do corpo humano que só os homens têm, se após os 40 anos não fizer exame, pode pegar um câncer e morrer. Já não basta o Joa com essa maldita doença! E não vou cuidar de velho moribundo, que pegou doença porque não se cuidou. E você vai fazer sim o exame da próstata, ou eu não me chamo Sandra Damasco Alves! Vou ligar para um urologista que conheço e ele vai fazer seu exame.
ANDRÉ (ASSUSTADO) - Não me invente essas coisas, Sasa! E mesmo assim não temos dinheiro para isso…
SANDRA (ELEVA O TOM DE VOZ) - Eu pago, quando a questão é saúde eu não choro miséria não. Você vai fazer sim, o quanto antes.
André tenta contestar, mas ela não permite soltando “Xiu!”. Ele engole em seco amedrontado. Abre-se a porra da frente, Rick entra.
RICK (COLOCANDO SEU PRODUTOS DE VENDA NO CHÃO) - Bom dia família…
ANDRÉ (FRANZE A TESTA) - Já meu filho? Pensei que viria só a tarde como todos os dias.
RICK (SENTA NO SOFÁ E TIRA O TÊNIS) - Ah, pai. Depois que fui esculachado por um cara racista escroto desanimei… então vim pra casa.
Os dois juntos: Como é que é!
ANDRÉ (IRADO) - Por que não deu uma surra nesse filho de uma égua!
SANDRA (IRADA) - Ah, se fosse eu, estrangulava esse desgraçado com minhas próprias mãos. Não tenho paciência com essas coisas. As pessoas não sabem a luta que a gente, negros de comunidade passamos e vem com preconceito de raça. Ah, faça me um favor!
RICK (DESVIA O OLHAR) - Deixa esse inútil, esgoto humano, o que é dele tá guardado! O lá de cima num dorme não, meu filho.
ANDRÉ (SÉRIO) - É isso aí meu filho, quando mais nos menosprezam mais nós se fortalecem… sou preto, nordestino, favelado sim! E com muito orgulho.
SANDRA (FAZ UM CARETA) - Mas também não é para tanto né, Dré. Ter orgulho de morar nesse Morro Branco que sempre tem tiroteio, e a gente tem praticamente que pagar taxa para bandido de quase tudo, isso é bom? Pelo amor né…
RICK (MUDA DE ASSUNTO, FRANZE A TESTA) - Cadê o Joa? Tá no quarto?
SANDRA (SORRI) - Adivinha onde ele está querido?
RICK (GARGALHA) - Nos correios da esquina? Mas esse Joaquim é uma comédia, daqui a pouco está lotando as agências de tanta carta para Deus… onde já se viu…
SANDRA (SÉRIA) - Não quero que menospreze o ato de fé de seu irmão, entendeu… ele tem mais fé em Deus que todos nós aqui juntos, se essa é a maneira que ele tem de buscar conforto que seja. Deixa ele.
RICK (SORRI) - Tá desculpa, mas que é estranho é…
Corta para…
CENA 7/AGÊNCIA DOS CORREIO DO MORRO BRANCO/TARDE/INT.
Joaquim entra no local e espera numa fila, as pessoas olha para ele com seu pano verde amarrado à cabeça. Quando chega a vez dele, ele se dirige até a atendente.
JOAQUIM (SORRIDENTE) - Olá, Gabriela. Trouxe minha carta da semana, demorei um pouco mais tá aqui. Deus mandou resposta?
Gabriela olha para a amiga atendente e sorri.
ATENDENTE GABRIELA (SIMPÁTICA) - Ainda não Joa… mas creio que ele vai já respondê-lo. Como você está menino?
JOAQUIM (SORRIDENTE) - Estou bem, hoje estou bem… passei a semana quase toda fazendo a bendita quimio, mas pelo menos hoje não me sinto cansado.
ATENDENTE SORAIA (SORRI, INTERROMPE) - Você ficará bom logo, Joa! Você é o menino mais forte que já conheci… o menino não, a pessoa! Parabéns por ser esse menino feliz com a vida e esperançoso. Você me inspira sabia.
JOAQUIM (ENLARGUECE OS LÁBIOS) - Obrigado Soraia. Você também é muito gentil, tchau, tchau gente!
Ele acena para todos ali e sai.
GABRIELA (FELIZ) - Que menino fofinho!
SORAIA (SORRINDO) - É mesmo um anjinho de Deus.
Corta para…
__________
Continuação da cena anterior…
Um homem desconhecido entra no local com uma pasta na mão. Enzo (FERNANDO PAVÃO) está de calça jeans e uma camiseta, barba feita recentemente, ele vai até a recepcionista Soraia e pede lincença.
ENZO (SORRINDO, UM POUCO ENVERGONHADO) - Olá boa tarde, vi ali que estão aceitando currículo, vim deixar o meu…
SORAIA (SORRI) - Claro, mas infelizmente a vaga foi preenchida essa semana, só esquecemos de tirar lá de fora.
ENZO (FRUSTRADO) - Ah, uma pena…
Ouve-se uns gritos vindo das dependências do local.
HOMEM (SAINDO RAPIDAMENTE AOS BERROS) - Nunca mais volto neste lugar, eu me demito.
GERENTE (BRAVO,GRITA TAMBÉM) - Vá mesmo! Não quer trabalhar, deixa a vaga para outro. (A Soraia) Soraia, faltando uma hora para terminar o expediente pode fechar o caixa e providencie a seleção urgente para novo funcionário, a vaga você já sabe…
Ele vai saindo. Soraia olha para Enzo sorri e chama o gerente.
SORAIA (SORRIDENTE) - Seu Lindomar, esse moço, veio aqui atrás de emprego, estava vendo o currículo dele e super se adequa a vaga.
Ela pisca para Enzo que sorri. O gerente encara ele.
GERENTE (APERTA OS OLHOS) - Gostei de você rapaz, nem precisa me mostrar o currículo Soraia, esse daí já é um dos nossos. Está contratado, que comece o quanto antes, providencie com RH a papelada para admissão.
O gerente aperta a mão de Enzo, do que fica radiante.
GERENTE (SORRI) - Seja bem vindo aos correios.
ENZO (MUITO FELIZ) - Muito obrigado. Vou fazer de tudo para somar e fazer a diferença.
O gerente acena com a cabeça e adentra as dependências da empresa.
SORAIA (SORRIDENTE, SUSSURRA) - Deus te ajudou, meu colega. Seu Lindomar é um osso duro de roer, e é a primeira vez que vejo ele mandar contratar alguém assim de cara. Deus é contigo. Parabéns.
ENZO (DESCONCERTADO) - obrigado, por ter me ajudado. Qual dia eu retorno?...
Eles conversam e a cena desvanece.
CENA 8/HOSPITAL PEDRO II/TARDE/INT.
Silvia tenta ligar para João Mauro, mas o celular cai na caixa postal. Manu aparece na porta junto com Luigi. Eles vão até Silvia, que está nervosa.
MANU (ERGUE UMA BOLSA COM ALGUMAS COISAS) - Trouxe as algumas coisas que papai pediu para trazer. Estão tudo na mala. Esse aqui é meu amigo Luigi…
SILVIA (IGNORA PRATICAMENTE TUDO QUE ELA FALOU) - Minha filha, você conseguiu falar com seu pai…
Manu olha para Luigi e fica confusa.
MANU (SEM ENTENDER) - Não mãe só falei com ele ontem a noite antes de ele ir com os meninos. Nem vi eles saindo de manhã. Está acontecendo alguma coisa.
SILVIA (COMEÇA A CHORAR MUITO) - Eu não a sei, estou com um aperto no peito uma sensação horrível… não sei explicar, só quero chorar minha filha, uma tristeza tremenda… e não consigo falar com seu pai nem com os meninos…
LUIGI (TENSO) - A senhora quer um copo de água, para ver se acalma?
SILVIA (TREMENDO E CHORANDO) - Sim, meu filho… por favor, obrigado…
Manu obriga ela a sentar, ela obedece, Manu tenta acalmá-la, Luigi trás sua água rapidamente e ela toma.
A tevê está ali com o som baixo ao lado, uma pessoa pede a recepcionista para aumentar mais um pouco, pois está passando uma notícia de última hora, ela o faz. Todos olham para tv perplexos, Silvia percebe e olha para a tv assim como Manu e Luigi.
REPÓRTER (TV, VOZ) - Uma tragédia sem tamanho. Um ônibus que vinha do Rio sentindo São Paulo tomba na divisa entre os dois estados, um ônibus da companhia Pinheiros, o ônibus tinha no total 39 passageiros e o motorista…
SILVIA (ASSUSTADA) - Pinheiros…
FLASHBACK ON
Dias atrás…
Silvia acorda a noite para beber água e encontrar a calça de Mauro na sala, ela revira os olhos a pega e a carteira cai, ela abre, encontra as passagens de Mauro, Mauri e Ben, ela foca no nome da empresa PINHEIROS TRANSPORTE
FOCO NA PALAVRA.
FLASHBACK OFF.
Silvia encara a tevê e seus olhos saem, mais e mais lágrimas.
REPÓRTER (TV. VOZ) - Ainda não temos muitas notícias mas podem ter morrido um total de 29 pessoas nesse triste acidente…
SILVIA (GRITA DE DOR) - Naooooooo! Meus filhos não! João Mauro…
Todos se assustam com o grito de Silvia, que desmaia em cima do sofá, Manu fica assustada e Luigi horrorizado. Manu chora tentando acordar a mãe.
Foco em Silvia desacordada.
“Passa-se uma cor esverdeada na tela e o rosto de Sílvia desacordada é fixado numa folha que cai de uma árvore ao soprar do vento.”
FIM DO CAPÍTULO.
Comentários