Conquistando O Impossível - Capitulo 01 (ESTREIA)
- The Open Door
- 15 de abr. de 2024
- 16 min de leitura
Web novela criada e escrita por:
Ricky Nascimento
CAPÍTULO 1: "ROUPAS VELHAS".
"Vidas vão e vêm, nascem, crescem e tomam seus rumos, mas nada supera uma perda tão rápida de quem amamos, de quem nos faz bem. Sentir falta é difícil, lembranças são difíceis, nos deixa emotivos, mas no final, nos dá esperança, de vencer, de CONQUISTAR O IMPOSSÍVEL."
CENA 1 /RIO DE JANEIRO/TARDE
2024
Numa tarde ensolarada de um dia normal na cidade maravilhosa, as pessoas caminham pelas ruas e abre foco para pessoas na praia de Copacabana e na do Leme. E após, mostram alguns pontos turísticos do Rio de Janeiro, em parte de uma comunidade bem pitoresca, bem agitada, onde mostra feirantes numa rua da grande Favela do Morro Branco; onde milhares de famílias vivem com pouca condições e com muita luta; um bairro totalmente ignorado pela prefeitura.
Mostra-se uma casa simples, mas bem limpa e até bem organizada.
João Mauro (LEONARDO VIERA) (49 anos, moreno, magro, alto, cabelos castanhos, olhos pretos) está em pé na sala em frente a um sofá; onde uma mochila é sua atenção. Ele arruma a mesma, e coloca vários produtos dentro. Silvia (PATRÍCIA FRANÇA)(48 anos, parda, corpo normal, cabelos castanhos claros, olhos azuis.) vem de um dos quartos.
SÍLVIA (VESTIDA COM SUA CAMISOLA AZUL, CABELOS SOLTOS, ELA BOCEJA) — João, acordado a essa hora? Você disse que só iria sair de casa após o almoço?
JOÃO MAURO (ESTÁ VESTINDO SUA MELHOR ROUPA, ESTÁ COM CABELO BEM PENTEADO E O SEU PERFUME PREENCHE TODO O AR DA SALA. JOÃO CUMPRIMENTA A MULHER COM UM SELINHO) — Oi amor, Bom dia… É sim, eu resolvi ir logo agora pela manhã, pois tenho um monte de coisas para resolver em São Paulo.
SILVIA (REVIRA OS OLHOS/INCOMODADA) — Nossa amor, pensei que iríamos passar a manhã juntos. Você sabe que a Narinha (IONÁ) está com uma febre que não passa, ontem dei paracetamol e ela dormiu… mas você deveria ficar em casa, pois sua filha está doente.
JOÃO MAURO (OLHA NOS OLHOS DA MULHER) — Eu sei meu bem, mas a Narinha é forte e aposto que ela está bem melhor hoje… (SÍLVIA SUSPIRA) Sisi, você sabe que estamos num momento difícil, as vendas das cocadas diminuíram e tenho que trabalhar…
SILVIA (INTERROMPE/ELEVA O TOM DE VOZ, MAS CONTÉM-SE) — EM SÃO… (ELA PARA E OLHA PARA O LADO COMO SE ALGUÉM ESTIVESSE OUVINDO-OS, ELA SUSSURRA) Em São Paulo, João. Você já trabalha aqui na cidade, tem que se debandar para São Paulo! Eu tenho medo, uma cidade violenta como aquela, não é legal você trabalhar ali.
João Mauro chega até ela, e toca em seu pescoço de leve, com carinho e beija ela sucessivamente.
— Calma… de cidade violenta para cidade violenta estamos na mesma, o Rio, já foi um lugar sossegado de viver, agora está nisso que é hoje. E não se preocupe, está tudo bem comigo e vai ficar tudo bem também, não ficarei sozinho, esqueceu que Ben e Mauri vão comigo?
SILVIA (CALMA) — Mas Amor, não sei se concordo em Ben e Mauri irem, não sei, não estou com um bom pressentimento nesta viagem. Acho melhor eles não…
JOÃO MAURO (INTERROMPE COLOCANDO O DEDO INDICADOR NA PONTA DOS LÁBIOS DE SILVIA/SUSSURRA) — Não, nem pensa nisso, os meninos, estão super animados para conhecer São Paulo e mamãe quer barrar? Sisi, isso não seria apropriado, destruiria um sonho de seus filhos por causa de pressentimento? Pensei que não acreditasse nisso? É da igreja e acredita em sexto sentido, pressentimentos, é sensitiva agora?!
SILVIA (RI, BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE) — Não… sei lá, é algo estranho que nunca senti, sinto que irá acontecer algo…
JOÃO (INTERROMPE NOVAMENTE) — Já sei o que vai acontecer! Nós vamos e os meninos conheceram São Paulo e vamos nos divertir muito. E deixa disso, você nunca foi de barrar minhas idas para Sampa.
SILVIA (EXALTADA) — Eu não sei o que você quer em São Paulo? Sabe que não gosto dessa cidade! Desde a época que estive com meu pai doente naquela maldita cidade. E ele morreu longe da mamãe. E tirando a fome que eu e você passamos naquele lugar. Se não fosse minha mãe, estaríamos a 7 palmos debaixo do chão. E eu ainda grávida dos gêmeos, quase morri, se não fosse a minha mãe e o seu pai pagar as passagens, não sei o que aconteceria. E novamente essa cidade maldita, essa Sodoma e Gomorra, está tirando algo da minha vida… (SILVIA RESPIRA FUNDO E DIZ DERRAMANDO UMAS LÁGRIMAS) Você!
JOÃO MAURO (DÁ-LHE UM ABRAÇO APERTADO) — Meu amor, nunca ninguém me separará de você; disso tudo que construímos juntos. Você é minha princesa desde o momento que te vi naquele ano, lá atrás… naquele baile da escola, lembra? Você estava perfeita. (JOÃO MAURO PEGA SUAS MÃOS E BEIJA, ELE ERGUE AS MÃOS DELA, E COMEÇA A DANÇAR NA SALA EM PASSOS LENTOS. SÍLVIA SORRI EMOCIONADA.)
FLASHBACK ON
CENA 2/São Paulo/Meados de 1989
João Mauro está num baile da escola, ele conversa com um companheiro. E observa fixamente Sílvia entrar no local. Ela olha para ele. E tem uma ligação, logo de início. Sílvia dá um sorrisinho torto e envergonhado e senta-se numa mesa ao lado. Toca "FICA COMIGO - Placa luminosa" Todos os casais começam a dançar, João Mauro e Sílvia não param de se olhar. Seu amigo percebe.
AMIGO — Eita, que o amor é lindo. Tão lindo... Vai lá e convida para dançar.
João Mauro levanta, e segue pelo salão, chega até a mesa. Sílvia vira o rosto envergonhada.
J. MAURO — Jovem moça bonita, me concederia essa dança?
Ele pega sua mão e beija-a. Sílvia olha assustada para ele ao mesmo tempo feliz.
SILVIA — Claro Jovem moço, por que não.
Ela levanta e João Mauro a conduz pelo salão até o centro do mesmo. Eles dançam coladinhos apaixonados.
FLASHBACK OFF
Silvia chora emocionada e feliz.
SILVIA (CHORANDO) — Bobo, me fez chorar. Mas foi o melhor dia da minha vida, tirando o nascimento dos nossos filhos. Desculpa amor, por jogar isso tudo em cima de você, ontem foi um dia difícil. Eu te amo muito.
JOÃO MAURO (BEIJA-A APAIXONADAMENTE) — Eu te amo/ para sempre.
SILVIA (REPETE) — Para sempre!
Os dois se entrelaçam em um beijo apaixonado. Mas logo é cortado por uns gritos que vem do quarto. Sílvia abre os olhos e revira-os.
SILVIA (REVIRA OS OLHOS) — O que foi agora, meu Deus, por um momento esqueci que éramos pais, e de quatro logo!
MAURO (SORRI) — Pois é, quatro anjos.
Eles dirigem-se para o quarto. Sílvia entra empurrando a porta rapidamente.
SÍLVIA (BRAVA) — Posso saber que gritaria é essa dentro de casa, que dá para ouvir lá do outro lado do planeta em Pequim?
Os dois ficam em silêncio.
SILVIA (INSISTE EM UMA EXPLICAÇÃO DOS MENINOS) — Vamos falar, não são especialistas em gritar!
JOÃO MAURO (BRAVO) — Vamos meninos respondam a sua mãe.
Maurício (JP DELFINO) (14 anos, branco, magro, alto, cabelo loiro escuro, olhos azuis) e Benício (JP DELFINO) (14 anos, branco, um pouco gordinho, alto, cabelo loiro escuro, olhos azuis) se entreolham assustados.
MAURÍCIO (CHATEADO) — É que o Ben, quer porque quer, que eu empreste as minhas roupas para ele. E eu não quero, aí ele começou a gritar feito louco, me xingando.
BENÍCIO (DEFENDE-SE) — Eu não te xinguei, deixa de ser mentiroso. Quando na face da terra, tu ficou tão imbecil?
Inicia uma nova discussão. Sílvia tenta acalmá-los. Mas não há êxito. Ela solta um grito.
SILVIA (BRAVA) — AHHHHHHHHHHH!
Todos olham para ela assustados.
Ela vai diminuindo o tom de voz como se tivesse em um concerto de ópera. João Mauro não aguenta e solta uma risada, mas logo se mostra firme. Há um silêncio.
SÍLVIA (CALMA) — Vamos lá, para as benditas regrinhas que há 14 anos venho ensinando a vocês. Primeiro… jamais, gritem um com o outro ou com os seus pais (que somos nós). Segundo, não será tolerado quaisquer palavras de ofensa nesta casa. Entenderam?
Eles ficam em silêncio. E baixam a cabeça.
SÍLVIA (REPETE) — Entenderam?!
OS DOIS EM MESMO SOM: Sim, mãe.
JOÃO MAURO — Agora nos conte, qual é o motivo de você querer vestir as roupas do Mauri, Benício?
BENÍCIO (FICA TRISTE) — Nada. Deixa para lá.
SILVIA (INSISTE EM TIRAR ALGO DELE) — Vamos João Benício Palhares, fale logo! Por quê fez essa cara?
Benício fica calado.
MAURÍCIO (INTERROMPE) — Mãe é o seguinte, ele veste as roupas boas em casa e quando tem que ter uma para sair, quer usar as minhas. Pois não tem nada, pois estraga todas, usando dentro de casa.
SILVIA (BAIXA O TOM DE VOZ) — Mas Ben, você tem tantas roupas bonitas. Eu e seu pai, sempre compramos roupas para os dois. Nós somos pobres, mas nunca, vocês andaram maltrapilho com roupa rasgada, descosturada, ou suja. Andaram?
BENÍCIO (GRITA CHORANDO) — Sabe de uma coisa mãe. Odeio ter essa vida, ser pobre e morar neste lugar! Não tenho nem o que vestir! Essas roupas são todas horríveis! Na verdade eu não tenho nada.
Benício sai rapidamente do quarto e João Mauro vai atrás. Silvia fica chocada, não fala nada.
MAURÍCIO (CHEGA ATÉ A MÃE E ABRAÇA-A) — Não liga mãe, ele está nervoso, ele sabe que estamos numa situação difícil, ele irá compreender. Sabe que te amo! Muito do tamanho do mundo inteiro.
Silvia derrama uma lágrima enquanto abraça Maurício.
Benício se tranca no banheiro e senta perto do vaso sanitário chorando, enquanto ouve João Mauro pedindo para ele abrir a porta.
FLASHBACK ON
CENA 3/Escola Particular Florentino
/Cunha/Dia anterior/Manhã/Pátio.
Benício está na sala de aula, conversando com os colegas, Dado e Ítalo. Dado mostra o novo tênis que seu pai deu de aniversário.
DADO — Cara, foi bem caro, mas adorei.
ÍTALO — No mês que vem, já pedi minha bike nova… sabe que adoro bikes, e troco todo ano.
BENÍCIO (OLHA PARA SEU SAPATO DE 2 ANOS ATRÁS, ELE REVIRA OS OLHOS) — Cara, para que trocar de bike todo ano? Tenho a minha a 4 anos e nem necessito de uma nova ainda.
ÍTALO (DESDENHANDO) — Cara, vamos a verdade… e ela é que a dona Sílvia não tem dinheiro, sequer para comer, imagina comprar uma bike todo ano.
DADO (RINDO) — E o pior, que nem sei como ela paga uma escola tão cara como essa, para tu e teu irmão estudar, sendo que ela vende cocada, olha só cocada… ver se pode?!
Benício levanta e diz que tem que ir, ele está triste, mas solta um sorriso torto. Ele sai, Sofia vê tudo e balança a cabeça em negação. Ela vai atrás de Benício. Ele entra no banheiro e ela encosta a orelha na porta e escuta um choro alto, e depois sussurros constantes. Ela entra no banheiro masculino. Benício assusta-se.
BENÍCIO (ENXUGA RAPIDAMENTE AS LÁGRIMAS) — O que faz aqui, esse é o banheiro dos meninos, você não pode entrar!
SOFIA (OLHA-O COM PENA) — Eu ouvi o que aqueles imbecis falaram contigo, não sei por que você ainda insiste em andar com eles, são muito mesquinhos e gostam de se exibir, você é diferente.
BENÍCIO (GRITA) — O que você entende disso! Hem! Você é filha de uma costureira…
SOFIA (ELEVA O TOM DE VOZ, INTERROMPENDO-O) — Sim, e com muito orgulho. Diferente de você, com esse seu ego alto, eu tenho orgulho da minha mãe. Ela sim batalha para me sustentar! Sou bolsista, sim sou, e daí. Você não era assim, quando entrou nesta escola, você se tornou isso que é agora, por andar com esses caras sem noção, procure alguém que some com você, e não quem te diminui, que te desprezam. Sabe de uma coisa, Ben, você merece isso. Não sei porque, fiquei com pena de você. Você é igual a eles!
Sofia sai do local, Benício dá um soco na parede do banheiro, bravo.
FLASHBACK OFF
MAURO (BRAVO) — Abre essa porta Benício! Vamos abre!
Silvia chega com Maurício. E chateada empurra de leve João Mauro que se afasta da porta. Ela bate constantemente na porta.
SÍLVIA (ORDENANDO) — Ben! Benício! Abre já essa porta, temos que conversar seriamente. Vamos abra!
BENÍCIO (DESTRANCA, DEIXA ENTREABERTA) — Entre mãe, sei que a senhora não vai desistir até eu sair mesmo, então entra logo de uma vez.
SÍLVIA (VIRA-SE PARA JOÃO MAURO) — Amor, vai ver como a Narinha está, deixa que converso com ele.
Enquanto João Mauro sai. Sílvia entra no local, junto com Maurício, e fecha a porta.
ENQUANTO ISSO…
João Mauro está andando no corredor, quando passa pelo quarto de Manuela. Ele vê que ela penteia o cabelo. Ele entra, Manu se assusta.
MANUELA (BEL MOREIRA) (17 ANOS, PARDA, MAGRA, ALTA, CABELO LISO LOIROS, OLHOS AZUIS ESCUROS.) — Que susto, vey! Pai quer me matar do coração. O que diabos é essa gritaria toda as 7 da manhã? Essa família deveria ser, pelo menos, uma vez normal?
Manu está vestida como roqueira, com camiseta onde mostra uma tatuagem que ela fez a dois dias atrás, e seu cabelo está bem penteado.
JOÃO MAURO (CHATEADO) — Bom dia para você também, Manuela.
MANUELA (INTERROMPE E CORRIGE-O) - Manu, somente Manu! Manuela soa muito rosa, eca…
JOÃO MAURO (PERCEBENDO A TATUAGEM/ARREGALA OS OLHOS) - Que… merd… Que tatuagem é essa?
Ele vai até ela e puxa o braço dela, e olha de perto.
Corta para...
MANU (RECLAMA DE DOR) — Aí pai, tá me machucando!
JOÃO MAURO (ARRASADO/SOLTA O BRAÇO DELA) — Minha filha, pelo amor de Deus! Como que você faz uma coisa dessas na sua pele e assim, exposta? Eu não sei mais quem é você… Cadê minha princesinha? Será possível que não exista mais.
MANU (SURPRESA) — Pai, sou eu, Manu. Mas você tem que entender que eu cresci. Não sou mais aquela menininha ingênua e imatura.
JOÃO MAURO (CHORA, MAS LOGO ENXUGA AS LÁGRIMAS COM O DEDO) — Preferia você como uma criança inocente e ingênua.
João Mauro sai do quarto chateado. Manu vai atrás.
MANU (CHATEADA) — Velho, é só uma tatuagem. o que tem de mal?
João Mauro para e vira-se para ela. Ele parece que vai gritar, mas se contém.
JOÃO MAURO (NERVOSO/FALA SUSSURRANDO) — O quê que tem? Manu, eu nem sei o que dizer, de tão chocado que estou. Minha filha… quando sua mãe souber disso, não vai dar certo. É melhor você colocar uma blusa para cobrir isso.
MANU (CHATEADA) — Sabe de uma coisa pai, não vou esconder, vocês têm que deixar de ser preconceituosos e me deixar eu viver a vida como quiser.
JOÃO MAURO (ARRASADO) - Ok. Por mim, pode se tatuar até o branco dos olhos, você já tem quase 18, já está na idade
de escolher o caminho, mas nunca se arrependa do caminho que você quer trilhar, nunca ouviu bem!
MANU (REVIRA OS OLHOS) - Ai meu buda! É só uma tatuagem, não é uma carta de despedida para o inferno, não.
Manu sai reclamando. João Mauro balança a cabeça, reprovando tal atitude.
NO BANHEIRO…
SILVIA (EXPLICA APÓS OUVIR BEN DESABAR) - Meu filho, as coisas não são da maneira que você vê, nem tudo gira em torno do dinheiro.
MAURI (BALANÇANDO A CABEÇA) - Você é bem burro, de acreditar naquelas bestas. Pelo amor…
SILVIA (INTERROMPE) - Mauri, deixa eu conversar com seu irmão à vontade, vá arrumar suas coisas para viagem, vai.
MAURI - Tá mãe… Ben, escuta ela, sabe que ela sabe de tudo, ouve sua mãe.
Maurício sai do banheiro. Sílvia fecha a porta. Ben está sentado no vaso sanitário chorando com as mãos no rosto.
SÍLVIA (SENTA-SE AO SEU LADO) - Filho… como estava dizendo, nem tudo é dinheiro, sem tudo é tênis novos, roupas novas, e bike nova. Temos uma coisa bem importante para o ser humano: valores, e muito amor. Esses que você diz ser seus amigos, não são de verdade. Gente assim, você tem que passar longe deles, gente que despreza o outro por causa de status sociais, não merece ser chamado de gente. Agora levanta essa cabeça e vá se aprontar para ir com o seu pai, vamos.
Ben fica no mesmo lugar, ele não chora mais, só funga. Sílvia puxa-o e abraça-o.
SÍLVIA (EMOCIONADA) - Meu menino, não sabe como me entristece te ver chorando. Sabe nunca quero que aconteça nada com vocês, meus filhos são minha vida, não sei se viveria ao perder alguém de vocês. Acho que morreria. Te amo muito viu.
BEN (SORRI) - Obrigado mãe, desculpa por ter gritado. Te amo mais.
SÍLVIA (ENXUGADO AS LÁGRIMAS) - Agora vá, se não tu vai ficar. O Maurí, já está quase pronto… e não se preocupe que vou te dar uma roupa nova. Tá bem?
BEN - Não precisa, mãe. Como você disse, roupa boa não é tudo na vida. Vou lá me arrumar.
No quarto de Ioná, João Mauro acorda a menina. Ioná abre os olhos.
JOÃO MAURO (SORRINDO/COLOCA A MÃO EM SUA TESTA) - Já não tem mais febre, como você está bebê?
IONÁ (LORENA QUEIROZ) (10 ANOS, LOIRA E BONITA) (DOLORIDA) - Papai, estou só com dores, mas já posso brincar com o Pedrinho?
J. MAURO (FRANZE A TESTA)- Não minha filha, deixa o Pedrinho um pouco na casa dele, depois ele pega virose e a Cícera vem na nossa porta reclamar, aí fica complicado.
Ioná fica tristinha.
J. MAURO (SENTA-SE AO SEU LADO) - Oh, Narinha. Não fique assim, prometo que quando voltar de São Paulo trago aquela boneca que você queria.
Ioná abre um sorrisão e arregala os olhos.
IONÁ (SORRIDENTE) - O da Polly Pocket?
J. MAURO - Sim grandona assim. (ergue os braços grandemente)
Ioná fica feliz e abraça ele. J. Mauro beija seu rosto e ordena-a levantar e escovar os dentes, ela o faz.
CENA 4/RIO DE JANEIRO/MEIER/RUA/MANHÃ/EXT.
Javier (DANIEL ROCHA) e Davi (DANIEL BLANCO) estão andando na rua e conversam sorridentes.
JAVIER (SUSPIRA) - Então amor, queria falar com você sobre a gente…
DAVI (QUEBRA O SORRISO, FICA TENSO) - Por que? Não me diga que quer terminar comigo? Mano, não acredito nisso.
JAVIER (REVIRA OS OLHOS, SOLTA UM SORRISO TORTO) - Não é isso, lindo. Senta aqui
Os dois sentam num banco de uma praça, Javier olha as mãos dele, e pega na ponta dos dedos, mantém o foco ali em silêncio, pensativo.
DAVI (CHATEADO, AFASTANDO A MÃO) - Fala logo Javi! Você sabe que não gosto de enrolação. Se quer terminar comigo fala logo não precisa me enrolar…
Javi beija ele na boca e os dois se entrelaçam num beijo. Davi se afasta e Javi fica chateado.
JAVI (INCOMODADO) - É isso que não está bom, Davi. Você é meu namorado e quando estamos no meio social você age assim, evita contato… porra, Davi, quero mostra as pessoas que tenho um namorado inclivel e gatinho. (Sorri e segura em seu queixo, e encara seus lábios.)
Davi levanta pensativo, ele evita olhar nos olhos de Javi. O silêncio de Davi, já demonstra que aquilo é bem incômodo para ele e Javi sabe disso.
DAVI (PEGANDO SUA MOCHILA E SAINDO) - Não consigo ainda, desculpa…
Javi fica em transe e seus olhos se enchem de lágrimas ele deixa rolar uma lágrima.
CENA 5/CASA DOS NOGUEIRA/MEIER/SALA DE ESTAR/MANHÃ/INT.
Ramires (DALTON VIGH) está no sofá lendo seu jornal e folheia-o. Ele olha para a porta da casa. Uma casa de classe média bem organizada e elegante. Ele olha novamente para a porta e suspira inquieto. Davi entra pela porta e Ramires não tira os olhos do jornal. Davi percebe o pai ali e vai até ele, está triste.
DAVI (TRISTONHO) - Boa tarde, pai.
RAMIRES (EVITANDO CONTATO) - Cansou de se pegar com seu amigo viadinho?
DAVI (OLHA PARA ELE ASSUSTADO, COMO SE TIVESSE VISTO UM FANTASMA) - Como? Não entendi…
Ramires levanta do sofá rapidamente e vai até ele. Davi fica assustado.
RAMIRES (BRAVO) - É… Não sabe é, deixa de ser sonso… a cara nem treme… Ora, Davi, não testa minha paciência se não, não respondo por mim! Fala logo!
Sonia vem da cozinha rapidamente.
SONIA (FLÁVIA REIS) (ASSUSTADA) - Que gritaria é essa? Agora todo dia será assim, esse inferno dentro de casa?
RAMIRES (GRITA) - Sim, será até esse incubado safado se assumir!
Davi treme e fica com a respiração ofegante. Enquanto ouvia os pais discutirem, ele lembra.
FLASHBACK ON
(PARTE DE CENA ANTERIOR)
Javi beija ele na boca e os dois se entrelaçam num beijo. Davi se afasta e Javi fica chateado.
JAVI (INCOMODADO) - É isso que não está bom, Davi. Você é meu namorado e quando estamos no meio social você age assim, evita contato… porra, Davi, quero mostra as pessoas que tenho um namorado incrível e gatinho. (Sorri e segura em seu queixo, e encara seus lábios.)
Davi levanta pensativo, ele evita olhar nos olhos de Javi. O silêncio de Davi, já demonstra que aquilo é bem incômodo para ele e Javi sabe disso.
DAVI (PEGANDO SUA MOCHILA E SAINDO) - Não consigo ainda, desculpa…
Foco no rosto de Javi chorando.
FLASHBACK OFF
Davi está parado como estátua e desce lágrimas nos seus olhos. Enquanto isso, Sonia e Ramires discutem.
SONIA (BRAVA, GRITA) - … Mas, você vai ficar infernizando o nosso filho por conta de boatos infundados, Ramires! Faça-me o favor!
RAMIRES (IRADO, GRITANDO) - Boatos, Soninha! Acorda! Você vive onde? Esta na cara que esse menino é viado, e daqueles mais vagabundo que tem! Nem coragem de confessar não tem. Agora fico sendo alvo de chacotas dos caras lá do bar, ficam dizendo que meu filho é boiolinha, uma gazelinha tudo com “inha” eu não suporto mais… Deveria pelo menos confessar que dar o (faz sinal ofensivo com os dedos, para indicar o anus).
SONIA (GRITA MAIS ALTO) - Chega! Já passou de todos os limites! Chega!
Daniele (SIENNA BELLE) (14 ANOS) vem do quarto assustada e para ao entrar na sala.
DANIELE (CONFUSA) - Que gritaria é essa, gente. Agora é normal dessa família conversar aos berros, estava fazendo lição de casa.
RAMIRES (IRRITADO APONTANDO O DEDO PARA DAVI, QUE SE MANTÉM INTACTO EM SILÊNCIO)- Esse seu irmão viado safado, boiolinha, que nem coragem tem de assumir aquele… aquele aidetico lá!
Davi olha rapidamente para ele, arregalando os olhos. Sonia e Daniele ficam horrorizadas.
Davi vai rapidamente até ele, e Sonia entra no meio para evitar uma tragédia.
DAVI (IRADO, MAS COM TOM ACEITÁVEL POR RESPEITO AO PAI) - Olha aqui, respeita o Javi… Ele não é nenhum aidético… seu preconceituoso…
RAMIRES (COLOCA AS MÃOS PARA TRÁS, ENCARA O FILHO) - E ele é o que? Uma bicha, que só vive dando por ai, pra qualquer um… aposto que passou hiv para você…
Davi irado dá uma cuspida na cara do pai, Sonia o repreende. Ramires vira o rosto, e parte para cima do filho, pegando pelo braço e o esbofeteando, Davi cai no chão. Sonia grita para pararem e Ramires espanca o filho, covardemente. Daniele chora nervosa. Sonia consegue tirar Ramires de cima do filho, e com toda sua força o joga-o para longe.
SONIA (OFEGANTE) - Para bater nele novamente, terá que passar por cima de mim.
Ramires encara Sonia e olha para Daniele, que vai até o irmão ajudá-lo a levantar. Ramires limpa a secreção da cara.
Corta para...
Davi chorando vai para o quarto, Daniele vai atrás.
RAMIRES (GRITA) - Da próxima vez, vem como homem, viadinho de merda.
Sonia fuzila o marido com os olhos e sai dali para conversar com Davi.
NO CORREDOR
DANIELE (ESTÁ NA PORTA E BATE FORTE) - Davi, abre irmão vamos conversar.
Ouve-se um choro sofrido. Sonia chega e tira Daniele que está à frente da porta.
SONIA (BATENDO NA PORTA FORTE) - Filho abre. Davi Daniel abre já essa porta! Abre, vamos conversar…
VOZ (OFF, DISTANTE, ABAFADA) - Não! me deixem em paz, saiam…
SONIA (ABAIXA A VOZ) - Abre filho… temos que conversar!
DENTRO DO QUARTO...
Mostra Davi sentado no chão do quarto, ele chora e soca o chão feito louco,n seus dedos começam a sangrar, ele para e grita aos berros.
DAVI (ARRASADO) - Vão embora! me deixa em paz…
Davi percebe que elas obedeceram o pedido dele. Ele enxuga as lágrimas, levanta e vai até um criado mudo e pega um vidro de remédio e o encara chorando.
CENA 6/MORRO BRANCO/CASA DOS SOUSA/SALA/MA
Mostra João Mauro no telefone onde conversa com alguém, ele olha para os lados desconfiado.
J. MAURO (TELEFONE, SORRIDENTE) - Sim mano, hoje vou para São Paulo, não vejo a hora de vê-la.
Nesse instante Maurício entra na sala, sem o pai perceber.
MAURI (CONFUSO, TENSO) - Vê quem? Pai, o senhor está traindo minha mãe?!
J.Mauro pega o celular e coloca no mudo, assustado. Ele olha para Maurício desconfiado e tenso. Mauri aguarda a resposta.
“Passa-se uma cor esverdeada na tela e o rosto de João Mauro é fixada numa folha que cai de uma árvore ao soprar do vento.”
FIM
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